quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Laços

Victor diz:
vê que crônica intrigante
http://www.estuario.com.br/2008/09/19/ex-amigo/

Por que a gente se entristece tanto pelos ex-amigos em vez de se alegrar pelos amigos?


(tirinha de Liniers Manacudo)

Fotografia
Leoni/Leo Jaime)

Hoje o mar faz onda feito criança
No balanço calmo a gente descansa
Nessas horas dorme longe a lembrança
De ser feliz

Quando a tarde toma a gente nos braços
Sopra um vento que dissolve o cansaço
É o avesso do esforço que eu faço
Pra ser feliz

O que vai ficar na fotografia
São os laços invisíveis que havia

As cores, figuras, motivos
O sol passando sobre os amigos
Histórias, bebidas, sorrisos
E afeto em frente ao mar.

Quando as sombras vão ficando compridas
Enchendo a casa de silêncio e preguiça
Nessas horas é que Deus deixa pistas
Pra eu ser feliz

E quando o dia não passar de um retrato
Colorindo de saudade o meu quarto
Só aí vou ter certeza de fato
Que eu fui feliz

O que vai ficar na fotografia
São os laços invisíveis que havia

As cores, figuras, motivos
O sol passando sobre os amigos
Histórias, bebidas, sorrisos
E afeto em frente ao mar.

E alguém sempre diz: "porra, Lena, Leoni??!?!"
É, uma das melhores coisas da amizade é não ter vergonha. Nem de ouvir Leoni.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Error report

Como sufoca este ar

escritorial em casa

O silêncio fim de tarde

não devia falar nada

e menos de madrugadas

ou responsabilidades

E pular da cama em susto

pra terecotar teclado

devia ser ilegal

mas, nos códigos que crio

muitas brechas dão passagem

a tristeza em fim de tarde

frustração de madrugada

e tarefas no domingo


Lena, 09/2008

domingo, 14 de setembro de 2008

Fundamental é ser feliz


7ª Parada da diversidade de Pernambuco. Falaram de 45mil pessoas. Pouco. Dizem de 100 mil no ano passado. Mesmo assim, foi especialmente feliz ver que, entre uma música para pular e outra, era reforçada a mensagem pela criminalização da homofobia - tema do ano e urgência política. Levei uns exemplares do Pancada #2 pra lá, entreguei a maioria a casais, já que a idéia principal do zine é dizer “namorem em paz fora dos lugares GLS”. Ah, se metade dos GLBTTT presentes naquela parada se beijassem sem tanta preocupação com os outros as coisas avançariam tão mais rápido... Também ajudaria muito se não se caísse em erros estúpidos como o do trio que tocou "tapinha não dói" em plena parada, um momento de protesto contra a violência homofóbica. Pra falar a verdade, isso não é coisa que se toque em canto nenhum.


Mas a irritação começou antes. A meia hora de preparação antes de sair de casa trouxe uma série de lembranças péssimas, do tipo “que história é essa de dizer no orkut que é bissexual? Você está querendo me expor?” Incrível como as pessoas invertem as coisas. Eu gosto mesmo é de me expor e, com isso, levar um tanto de gente a discutir e, eventualmente, abrir um pouco a cabeça. Homofobia é um mal curável e, muitas vezes, o principal é passar o choque inicial que vem na cabeça das pessoas com o desconhecido. É por isso que, apesar de não ficar nem um pouco à vontade com nudez ou semi-nudez pública, não achei ruim que os travestis exibissem seus seios em plena avenida Boa Viagem. A parte ruim disso é que o efeito é um tanto incontrolável, assim como ocorre com as drags. O caso é que, diferente dos heterossexuais que ficam à vontade e se divertem na parada, tem aquele povo dos prédios, que olha por cima dos muros e, hora aplaude e acena, hora se cutuca e aponta como quem diz: “olha lá, olha que gay engraçado!” Isso é especialmente incômodo porque se trata de um evento político, e não de um desfile das Virgens do Bairro Novo.


De toda forma, o humor é, também, uma modalidade de resistência, ajuda a pessoa a enfrentar olhares de espanto e/ou condenação. Nunca esqueço das manifestações de Yohana, a drag mais gente boa que já conheci, que se montava inteira para ir ao Recife Antigo, pegava ônibus, avacalhava com todos que a olhavam de lado, virava o centro das atenções e, depois de tudo, entrava na boate de graça, porque era mulher. Talvez nem ela soubesse, mas, mesmo que sua forma de agir não gerasse grandes debates políticos, era fundamental para que aquelas pessoas todas se lembrassem que a diversidade existe para além dos espaços GLS e que, antes de apontar alguém, é preciso lembrar que somos todos apontáveis. É a boa e velha regra de ouro do só fazer com os outros o que gostaria que fosse feito consigo.


de toda maneira, o caminho é longo, há uma grande distância entre ser aceito como gay e ser aceito como gay que se relaciona. Sim, beijar pode ser um ato político e deixar publicamente claro que é homo ou bi (no orkut ou onde quer que seja) é tão importante para as conquistas do movimento gay quanto foi, para o movimento negro, quando as pessoas começaram a responder ao censo: sou negr@.


“O medo cega, disse a rapariga dos óculos escuros, São palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegámos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos, Quem está a falar, perguntou o médico, Um cego, respondeu a voz, só um cego, é o que temos aqui. Então perguntou o velho da venda preta, Quantos cegos serão precisos para fazer uma cegueira. Ninguém lhe soube responder. A rapariga dos óculos escuros pediu-lhe que ligasse o rádio, talvez dessem notícias. Deram-na mais tarde, entretanto estiveram a ouvir um pouco de música. Em certa altura apareceram à porta da camarata uns quantos cegos, um deles disse, Que pena não ter trazido a guitarra. As notícias não foram animadoras, corria o rumor de estar para breve a formação de um governo de unidade e salvação nacional”

Ensaio sobre a cegueira.
Sempre tenho medo de me decepcionar no cinema.















(isto não é um cachimbo. Magritte, 1929)

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Civilidade, moralidade e o fim da picada

A universidade é um lugar estranho e a sociologia é uma tentativa de saber estranha que nos leva a exercícios enlouquecedores de teoria no cotidiano. Lembro que, pagando sociologia I na Católica, fomos obrigados a relacionar teoria e cotidiano. Claro que não conseguíamos fazer isso e metade da turma foi para a final. Julgavam que era sadismo de Valdir ser rigoroso nas correções, mas sadismo mesmo era querer que aprendêssemos a fazer tais relações. Toda vez que fico feliz pensando que aprendo, penso melhor e me arrependo.


Às 21h eu estava num mini-curso chamado “civilidade e moralidade em Adorno e Elias”, questionando se a norma de civilidade de não falar com estranhos não estaria descolada da norma de segurança de não falar com estranhos. Às 21h07 eu estava comprovando a resposta de Simone de que o medo é, também, uma forma de civilizar.


Um carro atravessado na frente das duas garagens onde eu poderia entrar. Quebrar os vidros do carro, furar pneus e arrancar calotas foram as primeiras sugestões da minha mente. As pessoas custam a crer, mas esse tipo de ação que o pensamento civilizado e a possibilidade de processo ou morte me impediram de ter não seria simples descarrego de raiva, mas uma forma de educação moral, para que as pessoas lembrem que há outros neste mundo e é preciso pensar neles.


Dia desses ouvi que um colega levou luz alta no trânsito, deixou a criatura mal-educada passar e tacou-lhe luz alta de volta. Pouco depois o primeiro grosso deu um tiro. Não pegou (ufa). O fato é que isso significa que uma das minhas principais atitudes educadoras no trânsito podem trazer minha morte, e eu sou o tipo de pessoa que teima que morrer não é parte natural da vida – ao menos não antes dos 108. É verdade, então: o medo faz parte do processo civilizador. Deve ser por isso que, na posição de namorado e co-piloto oficial, Lelo sempre me olha com cara de quem diz “lembre que Lira quase leva um tiro”.


Pensar nessas normas me fez lembrar, também, que não falar com estranhos é uma regra de civilidade contra a qual Fernanda criou uma espécie de mantra, repetido ao infinito lá pela cidade solar. E não é engraçado que essa pessoa seja a mesma com quem quebrei a regra de civilidade de não trocar homoafetividade em público? E que talvez seja essa a regra mais confundida com moralidade? Eu reclamo, mas sempre faço questão de voltar à universidade. Gosto de Simone, Adorno e Elias porque é sempre bom lembrar como pode ser péssimo esse negócio de civilização.














(é preciso aprender a falar com estranhos - pedaço de página do Esplim #7)


A volta dos que não foram

Depois de três dias trabalhando no computador a pessoa tem uma lembrança de quando esta era uma ferramenta prazerosa. Naquela época o fotolog não impedia os comentários de não-membros e havia tempo para o politicar(.zip.net), que não tinha tomado ares de obrigação.