domingo, 28 de dezembro de 2008
Lista
Isso não é um especial de fim de ano.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Quando o carnaval chegar
(Ludmila Glusgold)
Quando o carnaval chegar
Chico Buarque (fica melhor com Engenheiros do Hawaii)
Quem me vê sempre parado, distante garante que eu não sei sambar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu tô só vendo, sabendo, sentindo, escutando e não posso falar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu vejo as pernas de louça da moça que passa e não posso pegar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Há quanto tempo desejo seu beijo molhado de maracujá
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
E quem me ofende, humilhando, pisando, pensando que eu vou aturar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
E quem me vê apanhando da vida duvida que eu vá revidar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu vejo a barra do dia surgindo, pedindo pra gente cantar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu tenho tanta alegria, adiada, abafada, quem dera gritar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar
(Tá já chegando)
domingo, 30 de novembro de 2008
A menina dança
A Menina Dança ( Os Novos Baianos)
Composição: Galvão - Moraes Moreira
Quando eu cheguei tudo, tudo
Tudo estava virado
Apenas viro me viro
Mas eu mesma viro os olhinhos
Só entro no jogo porque
Estou mesmo depois
Depois de esgotar
O tempo regulamentar
De um lado o olho desaforo
Que diz meu nariz arrebitado
E não levo para casa, mas se você vem perto eu vou lá
Eu vou lá!
No canto do cisco
No canto do olho
A menina dança
E dentro da menina
A menina dança
E se você fecha o olho
A menina ainda dança
Dentro da menina
Ainda dança
Até o sol raiar
Até o sol raiar
Até dentro de você nascer
Nascer o que há!
Quando eu cheguei tudo, tudo
Tudo estava virado
Apenas viro me viro
Mas eu mesma viro os olhinhos
(é que eu não sei colocar vídeo nessa preula)
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Narrativa
(Olivia Bell)
Narrativa
Parece que outubro
virou-se em dezembro
e há ânsias, urgências
- o sono não vem
Parece que as ligas
das linhas que leio
me tiram da linha
dos passos passados
Rotinas, pessoas
e pernas pro ar
distantes, queridas,
são literatura
Virei-me: sou as
metas que me têm,
o abrir mão, planejar,
as contagens regressivas
Mas nem por isso outra
E quero o tempo presente
porque futuro apenas
nunca enche coração
Então lhe proponho,
senhora ciência,
devolva-me a poesia
e eu lhe dou humanidade
Lena, 2 de novembro de 2008
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
"(...) fiquei tentando colocar a gota de mercúrio dentro do labirinto. Continuei a tentar no avião, mas as sacudidelas faziam a gota esbarrar contra as paredes da caixa e partir-se em infinidades de novas gotas. Tentei no táxi, impossível. Colocar a gota inteira dentro do labirinto, sem que se dividisse em muitas outras, exigia concentração absoluta e quase total imobilidade. Esperei até chegar em casa, de repente tinha-se tornado questão de vida ou morte conseguir aquilo. De vida ou morte era exagero, mas de sanidade ou loucura não. Chegar ao centro, sem partir-se em mil fragmentos pelo caminho. Completo, total. Sem deixar pedaço algum pra trás."
Caio Fernando Abreu. Por onde andará Dulce Veiga?
Depois da narração brega e da interpretação fechadíssima de "O ensaio sobre a cegueira", meu novo medo no cinema é assistir à adaptação de Dulce Veiga.
sábado, 18 de outubro de 2008
Relíquias
Relíquias
As minhas gavetas pulsam.
Os papéis acumulados
e sons que vez por outra ecoam
são arquivados, mas vivem
- todos relíquias de mim
E antiquários não poderiam
Catalogá-los porque
a duração de cada etapa
varia de acordo com o corte
pelo qual me entrou na vida
e foi pulsar em gavetas
Lena, maio de 2007
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
terça-feira, 7 de outubro de 2008
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Laços
vê que crônica intrigante
http://www.estuario.com.br/2008/09/19/ex-amigo/
Por que a gente se entristece tanto pelos ex-amigos em vez de se alegrar pelos amigos?
(tirinha de Liniers Manacudo)
Fotografia
Leoni/Leo Jaime)
Hoje o mar faz onda feito criança
No balanço calmo a gente descansa
Nessas horas dorme longe a lembrança
De ser feliz
Quando a tarde toma a gente nos braços
Sopra um vento que dissolve o cansaço
É o avesso do esforço que eu faço
Pra ser feliz
O que vai ficar na fotografia
São os laços invisíveis que havia
As cores, figuras, motivos
O sol passando sobre os amigos
Histórias, bebidas, sorrisos
E afeto em frente ao mar.
Quando as sombras vão ficando compridas
Enchendo a casa de silêncio e preguiça
Nessas horas é que Deus deixa pistas
Pra eu ser feliz
E quando o dia não passar de um retrato
Colorindo de saudade o meu quarto
Só aí vou ter certeza de fato
Que eu fui feliz
O que vai ficar na fotografia
São os laços invisíveis que havia
As cores, figuras, motivos
O sol passando sobre os amigos
Histórias, bebidas, sorrisos
E afeto em frente ao mar.
E alguém sempre diz: "porra, Lena, Leoni??!?!"
É, uma das melhores coisas da amizade é não ter vergonha. Nem de ouvir Leoni.
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Error report
Como sufoca este ar
escritorial em casa
O silêncio fim de tarde
não devia falar nada
e menos de madrugadas
ou responsabilidades
E pular da cama em susto
pra terecotar teclado
devia ser ilegal
mas, nos códigos que crio
muitas brechas dão passagem
a tristeza em fim de tarde
frustração de madrugada
e tarefas no domingo
Lena, 09/2008
domingo, 14 de setembro de 2008
Fundamental é ser feliz
7ª Parada da diversidade de Pernambuco. Falaram de 45mil pessoas. Pouco. Dizem de 100 mil no ano passado. Mesmo assim, foi especialmente feliz ver que, entre uma música para pular e outra, era reforçada a mensagem pela criminalização da homofobia - tema do ano e urgência política. Levei uns exemplares do Pancada #2 pra lá, entreguei a maioria a casais, já que a idéia principal do zine é dizer “namorem em paz fora dos lugares GLS”. Ah, se metade dos GLBTTT presentes naquela parada se beijassem sem tanta preocupação com os outros as coisas avançariam tão mais rápido... Também ajudaria muito se não se caísse em erros estúpidos como o do trio que tocou "tapinha não dói" em plena parada, um momento de protesto contra a violência homofóbica. Pra falar a verdade, isso não é coisa que se toque em canto nenhum.
Mas a irritação começou antes. A meia hora de preparação antes de sair de casa trouxe uma série de lembranças péssimas, do tipo “que história é essa de dizer no orkut que é bissexual? Você está querendo me expor?” Incrível como as pessoas invertem as coisas. Eu gosto mesmo é de me expor e, com isso, levar um tanto de gente a discutir e, eventualmente, abrir um pouco a cabeça. Homofobia é um mal curável e, muitas vezes, o principal é passar o choque inicial que vem na cabeça das pessoas com o desconhecido. É por isso que, apesar de não ficar nem um pouco à vontade com nudez ou semi-nudez pública, não achei ruim que os travestis exibissem seus seios em plena avenida Boa Viagem. A parte ruim disso é que o efeito é um tanto incontrolável, assim como ocorre com as drags. O caso é que, diferente dos heterossexuais que ficam à vontade e se divertem na parada, tem aquele povo dos prédios, que olha por cima dos muros e, hora aplaude e acena, hora se cutuca e aponta como quem diz: “olha lá, olha que gay engraçado!” Isso é especialmente incômodo porque se trata de um evento político, e não de um desfile das Virgens do Bairro Novo.
De toda forma, o humor é, também, uma modalidade de resistência, ajuda a pessoa a enfrentar olhares de espanto e/ou condenação. Nunca esqueço das manifestações de Yohana, a drag mais gente boa que já conheci, que se montava inteira para ir ao Recife Antigo, pegava ônibus, avacalhava com todos que a olhavam de lado, virava o centro das atenções e, depois de tudo, entrava na boate de graça, porque era mulher. Talvez nem ela soubesse, mas, mesmo que sua forma de agir não gerasse grandes debates políticos, era fundamental para que aquelas pessoas todas se lembrassem que a diversidade existe para além dos espaços GLS e que, antes de apontar alguém, é preciso lembrar que somos todos apontáveis. É a boa e velha regra de ouro do só fazer com os outros o que gostaria que fosse feito consigo.
de toda maneira, o caminho é longo, há uma grande distância entre ser aceito como gay e ser aceito como gay que se relaciona. Sim, beijar pode ser um ato político e deixar publicamente claro que é homo ou bi (no orkut ou onde quer que seja) é tão importante para as conquistas do movimento gay quanto foi, para o movimento negro, quando as pessoas começaram a responder ao censo: sou negr@.
Ensaio sobre a cegueira.
Sempre tenho medo de me decepcionar no cinema.
(isto não é um cachimbo. Magritte, 1929)
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Civilidade, moralidade e o fim da picada
A universidade é um lugar estranho e a sociologia é uma tentativa de saber estranha que nos leva a exercícios enlouquecedores de teoria no cotidiano. Lembro que, pagando sociologia I na Católica, fomos obrigados a relacionar teoria e cotidiano. Claro que não conseguíamos fazer isso e metade da turma foi para a final. Julgavam que era sadismo de Valdir ser rigoroso nas correções, mas sadismo mesmo era querer que aprendêssemos a fazer tais relações. Toda vez que fico feliz pensando que aprendo, penso melhor e me arrependo.
Às 21h eu estava num mini-curso chamado “civilidade e moralidade em Adorno e Elias”, questionando se a norma de civilidade de não falar com estranhos não estaria descolada da norma de segurança de não falar com estranhos. Às 21h07 eu estava comprovando a resposta de Simone de que o medo é, também, uma forma de civilizar.
Um carro atravessado na frente das duas garagens onde eu poderia entrar. Quebrar os vidros do carro, furar pneus e arrancar calotas foram as primeiras sugestões da minha mente. As pessoas custam a crer, mas esse tipo de ação que o pensamento civilizado e a possibilidade de processo ou morte me impediram de ter não seria simples descarrego de raiva, mas uma forma de educação moral, para que as pessoas lembrem que há outros neste mundo e é preciso pensar neles.
Dia desses ouvi que um colega levou luz alta no trânsito, deixou a criatura mal-educada passar e tacou-lhe luz alta de volta. Pouco depois o primeiro grosso deu um tiro. Não pegou (ufa). O fato é que isso significa que uma das minhas principais atitudes educadoras no trânsito podem trazer minha morte, e eu sou o tipo de pessoa que teima que morrer não é parte natural da vida – ao menos não antes dos 108. É verdade, então: o medo faz parte do processo civilizador. Deve ser por isso que, na posição de namorado e co-piloto oficial, Lelo sempre me olha com cara de quem diz “lembre que Lira quase leva um tiro”.
Pensar nessas normas me fez lembrar, também, que não falar com estranhos é uma regra de civilidade contra a qual Fernanda criou uma espécie de mantra, repetido ao infinito lá pela cidade solar. E não é engraçado que essa pessoa seja a mesma com quem quebrei a regra de civilidade de não trocar homoafetividade em público? E que talvez seja essa a regra mais confundida com moralidade? Eu reclamo, mas sempre faço questão de voltar à universidade. Gosto de Simone, Adorno e Elias porque é sempre bom lembrar como pode ser péssimo esse negócio de civilização.
(é preciso aprender a falar com estranhos - pedaço de página do Esplim #7)